quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Comunicado da RECC-DF nº03 - A Luta contra o aumento salarial dos parlamentares


OCUPAÇÃO DO MINISTÉRIO DO TRABALHO (01/02): AVALIAÇÕES PARA PROSSEGUIR A LUTA!

No último dia primeiro de fevereiro, ocorreu uma manifestação, organizada e composta por estudantes e trabalhadores, contra o aumento dos salários dos parlamentares e de demais cargos do executivo aprovado a toque de caixa no final do ano passado com apoio massivo dos parlamentares. Nos preparativos do ato do dia primeiro, foi decidido pelo fórum de estudantes e trabalhadores que compõe o movimento, entre eles membros da própria RECC, que o objetivo da manifestação não se resumiria a ser mais uma ocupação de vias, partindo da rodoviária do plano piloto, como foram os demais atos, mas sim incluiria uma ação direta mais combativa. Desse modo, a comissão de organização do ato, eleita na assembléia do movimento, decidiu por ocupar o Ministério do Trabalho e lá permanecer até que duas pautas do movimento fossem atendidas: 1) entrega e leitura da carta de reivindicação para o ministro/burocrata de plantão Carlos Lupi, e 2) leitura da mesma carta na Voz do Brasil, conclamando a classe trabalhadora brasileira para aderir aos protestos e barrar o absurdo aumento salarial dos parlamentares assim como lutar por melhores salários e condições vida.


Ainda que com um desvio de percurso devido à presença inesperada da polícia na frente do ministério, o ato do dia primeiro conseguiu parcialmente concluir seus objetivos, ocupando o hall de entrada do ministério e fazendo o ministro receber e escutar a leitura da carta de reivindicações. No entanto, ao longo do ato, o movimento e a ocupação incorreram em diversos erros que, na nossa concepção de luta classista, minaram a força do ato e acabaram por levá-lo ao espontaneísmo e à perda de foco. É importante salientar que em manifesto da RECC distribuído no próprio ato já alertávamos quanto ao problema do espontaneísmo pequeno-burguês defendido por indivíduos e grupos, principalmente o MPL. [1]


A MÍDIA BURGUESA E OS PARTIDOS REFORMISTAS


Durante a ocupação ocorreu um debate sobre a mídia que é importante que seja aprofundado pelas organizações classistas. Primeiramente, a mídia corporativa e burguesa é um instrumento dentro da sociedade capitalista para a manutenção da exploração que sofre as massas proletárias, e isso ocorre pelo fato dela ter o monopólio das informações transmitidas em tempo integral a todos os lares, locais de trabalho e de lazer e ser financiada e sustentada por grandes capitalistas (banqueiros, latifundiários, políticos, industriais etc), fazendo com que o seu conteúdo criminalize as lutas populares, distorça e/ou omita informações destas.

Alguns manifestantes entendem a luta a partir de uma perspectiva “midiática” semelhante ao dos partidos reformistas (PT, PCdoB, PSTU, PSOL). No primeiro caso, a confiança na mídia muitas vezes é advinda da possibilidade de que a mídia possa “trabalhar conjuntamente ao movimento”, dando uma publicidade nacional a ele, e servindo inclusive como instrumento de pressão sobre a burguesia e sobre o governo. No segundo caso, dos partidos reformistas propriamente ditos, tal apego pela mídia é advindo de uma prática oportunista que objetiva capitalizar eleitoralmente as lutas populares para sua legenda eleitoral. No entanto, ambas as perspectivas deixam as lutas submetidas aos desmandos da mídia burguesa, pois, para fazer a mídia “ficar do nosso lado” (sic) vale tudo: não pode utilizar máscaras, não pode fazer ação direta, não pode transigir os limites dessa legalidade burguesa.

Não estamos querendo dizer com isso que nunca se possa utilizar da mídia burguesa para publicizar determinada causa, o que estamos querendo dizer é: esta não deve ser a base de sustentação da luta, a base de sustentação deve ser as massas estudantis organizadas, e estas organizações devem criar seus próprios veículos de propaganda: jornais, cartazes, panfletos, pintura em muros, páginas na internet etc.


A OCUPAÇÃO DO MINISTÉRIO


Em primeiro lugar, houve uma imensa confusão no modo como foram conduzidas as assembléias dentro do ministério, em especial a que determinou a permanência da ocupação após a entrega da carta ao ministro. Nós da RECC entendemos que foi um modo errado de se fazer a votação entre permanecer ou não sem que houvesse uma reivindicação condicionante de nossa saída. Desse modo, votamos em favor de se manter a ocupação, mas reconhecemos que lá permanecer sem termos bem definido a pauta de luta foi um erro responsável pela relativa desmobilização do movimento. Acreditamos, portanto, que a ocupação deveria ter mantido sua pauta original e ter exigido do ministro a leitura da carta na Voz do Brasil. Em face da confusão das assembléias, muitos estudantes (alguns manifestantes sinceros, outros notórios oportunistas) acusaram a RECC de aparelhamento do ato. Nós da RECC respondemos: lutamos para que todas as decisões do movimento sejam tomadas em assembléias democráticas e abertas para todos os participantes, sejam elas as que precedem o ato ou aquelas que ocorrem durante ele. Todos os posicionamentos de membros da RECC foram submetidos às assembléias, ora sendo acolhidos, ora não. É esse o método de democracia de base que acreditamos e defendemos como parte da luta classista e combativa. Em nenhum momento a RECC assumiu a liderança do ato em detrimento da vontade da massa de estudantes.

Em segundo lugar, houve um mal-estar, expresso em falas durante a ocupação, com uso de máscaras por alguns manifestantes. Nesse caso, é preciso justificar o uso de máscaras como medida de segurança. Ao fazer uma ação direta, como uma ocupação, é necessário que nós nos protejamos contra as possíveis retaliações das forças policiais e da justiça burguesa. A experiência nos ensinou de qual modo os fiéis cães da burguesia defendem seus patrões. A utilização de máscaras não deve ser entendida como um mero fetiche, ou um adereço estético. Precisamos encarar a dura realidade da luta de classes e nos precaver contra nossos inimigos. A identidade que devemos preservar não é a dos indivíduos em si, mas a da justa luta das massa.

Por fim, é preciso reconhecer que o movimento perdeu-se em discussões subjetivas e pouco práticas, querendo justificar posições com base na história individual de alguns manifestantes e não na realidade objetiva do ato e na sua correlação de forças. Isso se deu em alguns momentos através do discurso do "apartidarismo", segundo o qual correntes organizadas não poderiam intervir na condução do ato com o objetivo de disputá-lo politicamente. Nesse caso, precisamos responder: o "apartidarismo" é um engodo pequeno-burguês sustentado por pseudo-anarquistas que buscam despolitizar o movimento e basear suas decisões não mais nas deliberações coletiva dos estudantes e trabalhadores, mas sim nas relações de amizade e/ou na busca de "consensos" inexistentes. Defendemos, isso sim, a organização (sindical, popular e estudantil) e a democracia de base, a ação direta como método privilegiado de luta e o classismo como elemento unificador das nossas pautas. Por isso, acreditamos que a RECC seja o instrumento adequado para a reorganização do movimento estudantil anti-governista que combata os putefrados fóruns de UNE e UBES e o eleitoralismo reinante; que permita a autonomia do movimento estudantil em relação aos patrões e governos e que seja capaz de conduzir a luta para obtenção de reais vitórias. Fazemos, assim, um chamados aos estudantes que percebem que a luta contra o aumento dos parlamentares é apenas um evento numa longa cadeia de lutas e que, para fazer face às exigências históricas de nossa classe, é necessário construir organizações capazes de conduzir nosssas lutas.


POR ISSO FAZEMOS O CHAMADO: VENHA CONSTRUIR A RECC!
FORA TODOS: SALÁRIO PARA O POVO, NÃO PARA OS PARLAMENTARES!
FORA UNE E UBES PELEGAS!




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Notas:

[1] Ler o Comunicado nº2 da RECC-DF, A Luta contra o aumento dos parlamentares: entre o reformismo parlamentar e a luta classista e combativa

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